Iniciação à modelagem

Quando se fala no mundo da Moda, as pessoas logo pensam nos grandes estilistas e nem imaginam, a quantidade de profissionais que estão por trás de todo o processo de criação de uma peça de roupa.

Desenvolvimento de cada modelo de roupa na Indústria têxtil...

Aqui vou tentar explicar um pouco do desenvolvimento de cada peça de roupa até chegar as mãos do consumidor. Nas mãos de quem começa e nas mãos onde terminam…

Criação e desenvolvimento do produto:

O primeiro passo é do designer de moda, este faz uma pesquisa profunda (a pesquisa é essencial para qualquer processo de design) estuda tendências de mercado de forma a facilitar a comercialização e cria modelo a modelo chamando a este conjunto de peças cápsula (quando se trata de um conjunto de t-shirts ou calças, etc.) ou colecção quando se trata de conjuntos completos. O designer também tem como função escolher os tecidos apropriados para cada modelo.

      Feiras de Tendências                             Croquis                                               Tecidos

As empresas trabalham com os seus próprios designers de moda ou trabalham directamente com clientes exteriores que enviam as suas fichas técnicas com as respectivas tabelas de medidas.

Após a empresa receber essas fichas técnicas elas chegam à mão do modelista. O trabalho do modelista é fazer o molde (um molde é um conjunto de peças que compõem um modelo), este faz uma leitura profunda do modelo que é apresentado em desenho, croqui técnico, foto ou mesmo peças já feitas, estuda todas as questões, todos os cortes e recortes, desenvolvido segundo as informações do estilista.

 
Ficha técnica                          Tabela de medidas                             Molde

Os modelos antes de seguir para produção passam por estudos de fitting, isto é, faz-se um primeiro protótipo do qual o cliente comenta o fitting e ainda tem tempo para fazer algumas alterações. Após o protótipo estar aprovado faz-se a escala ou a graduação (dependendo do que cada um chamar) do modelo a partir da tabela de medidas sugerida (escalar um modelo consiste em reproduzir vários tamanhos a partir do tamanho base que foi feito o protótipo).

Antes de cortar o total pretendido de cada modelo, isto é, a produção, é enviado ainda 3 peças de tamanhos diferentes para aprovação, sendo estes, o tamanho mais baixo, o tamanho base (com as alterações pedidas do cliente após o protótipo) e o tamanho maior da tabela. Esta fase é feita para aprovação da tabela de medidas. A este conjunto de 3 peças chama-se Size Set.

                                   Analise de fitting e modelo                Modelo escalado ou graduado

Após a aprovação faz-se um plano de corte onde aí sim se corta o total da produção, ou seja, a quantidade tamanho a tamanho pedida pelo cliente. Abaixo fica um exemplo de uma nota de corte com a cor e quantidade de um modelo (uma t-shirt ou calças, tanto faz, a nota de corte serve para o modelista saber a quantidade correcta de um só modelo e a sua distribuição por tamanho e por cor).


                                         Nota de corte                                      Plano de corte

Hoje em dia um computador (com sistema para fazer moldes), um scanner e uma mesa digitalizadora, são os componentes mais importantes de um gabinete de modelação.


Secção de Corte:

Com o plano de corte feito, o modelo sai assim da mão do modelista para o corte, onde existem várias pessoas especializadas em tecidos. Estas devem saber como estender e cortar um plano de corte. Assim como conhecer os vários truques dos tecidos ou das malhas, pois um tecido mal estendido pode prejudicar os modelos e as peças podem ficar enviesadas, mais pequenas ou por vezes maiores do que é pretendido. Logo, o papel da pessoa responsável por cortar uma produção também é muito importante. Hoje em dia já existem máquinas automáticas para estender o tecido ou malha e máquinas para cortar o “colchão” estendido, mas estas não dispensam de forma alguma a experiência de um profissional.


                     Corte manual                                               Imagem da secção do corte
    (colchão de malha de varias cores)                        em funcionamento (entender do tecido manual)


          

                  Mesa automática de estender do tecido                            Mesa de corte automático


Secção de Confecção:

Após o corte, o conjunto de peças que formam o modelo seguem para a confecção. A secção de confecção é constituida por um conjunto de pessoas chefiadas por uma pessoa responsável pela linha da produção. Esta organiza a secção da confecção em células e divide o trabalho distribuindo a cada costureira a parte específica definida para ela. As costureira não fazem o modelo de início ao fim, mas sim, especializam-se numa só máquina ou numa só tarefa, daí a necessidade de criar células.
A confecção é organizada assim por uma chefe de linha, pelas suas costureiras, e por pessoas que possam por vezes fazer trabalhos manuais do qual alguns modelos o exigem.






                                     Imagens da secção de confecção em funcionamento

Embalamento:

Após estas operações seguem os modelos para o embalamento. Este é constituído por uma chefe que fica responsável em dividir tarefas: umas pessoas rematam (rematar - cortar linhas), outras passam a ferro, outras dobram as peças e outras metem os modelos dentro das embalagens para assim seguir para as lojas. Durante este processo de embalamento temos a situação mais chata que é o das controladoras, que medem as peças para ver se estão de acordo com a tabela de medidas e verificam todos os pormenores de confecção e embalamento.
    
Imagens da secção do embalamento em funcionamento

E por fim os modelos chegam às mãos do cliente e este fica responsável por os distribuir pelas várias lojas ou vendedores que os compram.







Molde...

Como já tinha dito antes, um molde é um conjunto de peças que compõem um modelo. É um plano bidimensional correspondente a uma determinada parte do corpo, a partir do qual se obtém uma peça tridimensional.

Começamos a realizar um molde através de um croqui técnico, foto ou peças já feitas.
Ao fazer a modelagem deve-se observar todos os detalhes do modelo a ser confeccionado, isto é, devemos fazer uma leitura profunda do modelo, todos os cortes que contem, pinças, franzidos, etc.

Exemplo: temos uma saia abaixo do qual vamos fazer a leitura dos vários promenores:
1º não tem pinças na cintura
2º é uma saia em evasé
3º tem um cinto relativamente baixo (neste tipo de cintos, usamos entre 2 a 2,5cm)
4º a bainha também é baixa
5º tem fecho no meio costas (o fecho neste tipo de saias vai normalmente de 18 a 20cm)


Após análise do modelo, seguimos a seguinte metodologia:


Molde base Molde representativo do corpo humano, a partir do qual se realizam transformações tanto em configuração como em dimensão, de forma a obter-se os moldes do modelo desejado (normalmente o mesmo molde base possibilita várias transformações).
Fazemos a construção do molde base a partir de medidas tiradas do corpo humano ou medidas standard dadas numa tabela de medidas.


Transformação - Para a saia que vimos acima, primeiro alongamos a linha da pinça até ao fundo, esta vai ser recortada e ao mesmo tempo fechamos as pinças, que pela figura deixam de existir.

Este processo vai fazer com que as pinças deixem de existir e ao mesmo tempo o fundo alarga para assim ficar em evasé.

Molde final – Molde da peça com valores de costura e de bainha e com todas as informações necessárias para a construção do modelo.

Valores de costura no molde final – Medida a acrescentar paralelamente ao bordo do molde para permitir a execução das costuras do modelo. Esta medida varia consoante o tipo de costura e o tipo de peça.

 


Identificação do molde - informações indispensáveis que devem constar no molde, especialmente nos moldes finais.
Fio direito – sentido do tecido paralelo à ourela. Indica a posição em que o molde deve ser colocado no tecido.

Referência – código que identifica todos os moldes que compõem um modelo, é representado por letras ou números (ex: saia evasé).
Designação – nome que identifica os diversos moldes que compõem um modelo (ex: frente, costa, cinto, etc…).
Tamanho – designa o tamanho a que corresponde todos os moldes (ex: 36, 38, 40, 42, etc…).
Nº de vezes a cortar – indica o número de vezes que poderá ser riscado cada peça do molde de forma a obter todos os componentes necessários para a montagem do modelo (ex: 1X, 2X, etc…).
Furos – Marcas efectuadas no interior do molde de forma a assinalar pontos específicos (ex: localização de pinças, bolsos, etc...).
Picos – Marcas efectuadas no bordo do molde, transferidas das linhas de construção, que assinalam pontos específicos (ex: localização de pregas, comprimentos, etc…).



Medidas...

Designação - as medidas são um elemento fundamental para a construção geométrica de um modelo. São, portanto, informações precisas de uma dimensão de determinada zona do corpo.

Existem dois tipos de medidas:
Medidas principais – São medidas indispensáveis para a construção dos moldes. Estas são medidas no corpo. Na produção industrial estas medidas são standard (medidas obtidas após um estudo de mercado).
Medidas auxiliares – São medidas complementares obtidas através de cálculos com base nas medidas principais. Estes cálculos podem ser feitos a partir de fórmulas ou também podem ser medidas no corpo.


A – Altura total
B – Altura do tronco
C – altura da cintura 1\2 costas
D – altura da cintura 1\2 frente
E – altura lateral (desde a cintura)
F – altura entre pernas
G – altura ou posição da anca (desde a cintura)
H – Altura do joelho (desde a cintura)
I – altura ou posição do peito
J – circunferência da cabeça
K – circunferência do pescoço
L – circunferência do peito
M – circunferência da cintura
N – circunferência da anca
O – circunferência do punho
P – largura entre ombros
Q – largura entre seios
R – largura costas (largura entre cavas costa)
R1 – largura frente (largura entre cavas frente)
S – largura do ombro
T – comprimento do braço
U – circunferência do tornozelo
V – circunferência joelho
W – Altura do capuz
X – medida do gancho (desde a cintura)
Y – Circunferência do braço (ou medida do musculo)
Z – Circunferência do cotovelo

O bom resultado da modelagem depende das medidas...

Kiss, Kiss...
Marlene Marques



Sem comentários:

Enviar um comentário